Planeta Copa – Gerson Nogueira – 09.07.14

9 de julho de 2014 at 3:23 pm Deixe um comentário

Nem deu tempo de ficar nervoso

Um vexame sem precedentes na história do futebol brasileiro. Superou até o Maracanazo de 50, embora não tenha sido na final da Copa. O passeio alemão no Mineirão foi tranquilo e calmo desde os primeiros minutos. Bola de pé em pé, flutuação perfeita dos meias Ozil e Kroos, tabelinhas à brasileira entre Lahm e Muller. Um show.
Poucas vezes um time se impôs com tanta autoridade moral sobre outro em uma semifinal de Copa. E olha que o adversário massacrado era o anfitrião do torneio.
Bem treinada, compacta na marcação e na saída para o ataque, a Alemanha realizou um jogo particular, sem tomar conhecimento do Brasil. Explorou com sabedoria a insegurança do miolo de zaga, onde Dante não se encontrou em nenhum momento. Errou todas as cabeçadas e perdeu todas as divididas.
Fernandinho e Luiz Gustavo foram espectadores privilegiados das evoluções do afinadíssimo conjunto germânico. Khedira, o mais limitado dos volantes de Joachim Low, deu-se ao luxo de se plantar na intermediária brasileira, confundindo a saída de bola da Seleção.
Os primeiros golpes trocados denunciavam a frágil organização defensiva do Brasil, que tinha dificuldades em sair jogando com os meias. Oscar, sumido entre os marcadores, não se apresentava como a opção para conduzir o jogo pelo meio. Bernard era o mais ativo dos atacantes, mas o time sofria com a fraqueza do lado esquerdo do ataque, onde Hulk repetia os erros de sempre. No meio, parado na tradicional posição de poste, Fred não recebia uma bola. Quando chegava nele, voltava para os alemães.
O Brasil resistiu por 10 minutos. Até Hulk perder uma bola na tentativa de driblar Hummels. O lançamento chegou a Kroos e deste para Lahm. A zaga afastou para escanteio e, logo a seguir, ficou marcando a bola com os olhos. Muller aproveitou o presente, aos 11 minutos.
O gol fez a Seleção ir à frente, mas sem organização ou criatividade. Oscar seguia inoperante. Com isso, prevalecia a marca inconfundível do time: as ligações diretas. Bernard era acionado, mas as bolas ou eram longas demais ou muito curtas.
Como o Brasil não tomava um rumo, a Alemanha voltou a pressionar e a trocar passes junto à área. Aos 23 minutos, a bola se apresentou de novo para Muller na pequena área. Julio César defendeu o chute, mas o rebote caiu nos pés de Klose, que fez o segundo gol e assumiu a artilharia em Copas, com 16 gols.
Não deu nem tempo de comemorar. Aos 24, Toni Kroos pegou de primeira uma bola que atravessou a grande área brasileira. O chute saiu no canto, indefensável. Dois minutos depois, o próprio Kroos aproveitou a indecisão de Dante e Fernandinho e marcou o quarto gol.
A goleada se consumou aos 29 minutos, em bola rebatida nos pés de Khedira. Nem os alemães acreditavam em tamanha facilidade. Ninguém, a bem da verdade, conseguia atinar para o que se passava em campo. Os jogadores do Brasil pareciam paralisados, sem saber a quem marcar. E os adversários se multiplicavam.
O milagre da multiplicação tem uma explicação: o time alemão funcionava organizadamente e tocava a bola com correção, sem desperdiçar energia e se deslocando rapidamente. Quem diria, foi no velho um-dois que Low massacrou Felipão. Como se a Alemanha estivesse treinando.
Na segunda etapa, Fernandinho e Hulk foram substituídos por Ramires e Paulinho. Nem em meio ao naufrágio Felipão abriu mão dos seus 300 volantes de Sparta. De qualquer forma, o time foi buscar um sopro de entusiasmo e começou a fustigar a zaga alemã.
Com vontade, Bernard, Ramires, Paulinho e Oscar perderam quatro oportunidades seguidas, defendidas por Neuer ou abafadas pela zaga. Só que na primeira arrancada ao ataque a Alemanha quase chegou ao sexto gol, com Lahm. Instantes depois, um contragolpe mortal deu a Schuerrle, que havia substituído Klose, a chance de finalizar para as redes.
Destroçado física e mentalmente, o time brasileiro tentava ir à frente, rondava a área, mas a impotência prevalecia. Aos 36 minutos, veio o golpe definitivo. Shuerrle recebeu no canto esquerdo da área e bateu pelo alto, rente ao travessão. Um golaço. Incrível: o país pentacampeão do mundo estava levando uma peia de 7 a 0 em sua própria casa.
Willian entrou no lugar de Fred, apupado pelo estádio inteiro. A mudança foi de seis por meia dúzia, sem qualquer melhora no ataque brasileiro.
O fato é que nem o mais pessimista dos torcedores vira-latas imaginava um vareio tão grande de bola. Sem Neymar, seu cérebro e principal atacante, único talento desta geração, o Brasil se comportou como um timinho assustado, quase uma Honduras ou um Azerbaijão, que perdeu o bonde depois de levar o primeiro gol. Oscar ainda marcaria o gol de honra, limpando jogada na área alemã.
O torcedor bateu palmas para saudar os donos da bola, absolutos no clássico de ontem. Os alemães, conforme previra Johan Cruyff, jogam o melhor futebol do planeta hoje, estruturados desde 2006 e merecem passar à final.
A bola, como diz o outro, pune. O futebol não perdoa a incompetência. O Brasil abusou disso nos 90 minutos. Resta juntar os cacos e levantar. E vida que segue.

Fim da era Felipão no escrete

Na tribuna de imprensa do Mineirão a derrota acachapante, humilhante e inesperada, que frustrou o país inteiro, determina o fim da era Felipão na Seleção Brasileira. Com ele, saem Parreira e Murtosa. Mas, antes que alguém pregue a crucificação do gaúcho de bigodes, cabe observar que o problema maior não está no técnico.
É preciso entender que o Brasil poucas vezes teve uma geração tão opaca e desinspirada. Formar um grupo de 23 jogadores foi até fácil para Felipão. Anunciou sua convocação para a Copa sem contestações ou críticas, afinal os melhores estavam no grupo.
Pode-se lamentar que Kaká, Lucas ou até Ganso foram deixados de lado, mas nenhum deles daria jeito na atormentada equipe que entrou em campo para ver a Alemanha jogar ontem. Sem Neymar, o Brasil se nivelou aos times mais limitados da Copa. Só a superação poderia funcionar como remédio desesperado, mas ela não veio e o time sucumbiu.
Fala-se em Tite para assumir o comando, mas ele também será massacrado se o Brasil não renovar seu naipe de jogadores. Isso leva tempo e exige trabalho sério.

Até o Maracanazo fica em segundo plano

Foi a pior goleada já sofrida pelo Brasil em Copas. Foi também a sexta maior goleada na história do torneio da Fifa. E representou um amargo acerto de contas com os execrados jogadores de 1950. A derrota no Maracanã para o Uruguai deixou marcas indeléveis nos corações brasileiros, mas perde em contundência e importância para a surra inesquecível que o time de Felipão sofreu no Mineirão.

Máquina de guerra arrasa em BH

Depois do que se passou em Belo Horizonte, com a exibição de gala da máquina alemã de Muller e Kroos, pode-se dizer, sem medo de errar, que a Alemanha não arrasava um país assim desde a II Grande Guerra.

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